quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um Conto de Sangue e Ouro.

É com grande prazer que venho anunciar a todos os leitores que o livro já foi publicado na saraiva. Espero que gostem dele.

Segue a sinopse:


“Meu pai me ensinou que um martelo pode forjar, a vida que ele pode matar – Meu nome é Dorian e eu sou um mercenário”.

Após dez anos desde o fim da guerra civil que deixou o reino de Carmiria a beira do caos, os conflitos apenas pioram quando os ataques das hordas barbaras se intensificam na fronteira do reino, localizada no vale dos mortos. Neste cenário, tomado pelas marcas de vários conflitos, Dorian um ferreiro que busca fugir de seu passado, encara sua nova realidade como um mercenário ao lado de três estranhos que vão mudar o rumo de sua vida. Afinal todo trabalho é apenas um trabalho...


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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Instrumentos da morte – Parte V

Ecos dos inocentes II

Foi perturbador e desumano a forma como tudo aconteceu. Dois terços dos nossos homens ficaram escondidos na floresta enquanto os demais, aonde estava junto com Augusto que liderava o ataque, avançávamos a cavalo contra as fazendas incendiando-as. A luz tomou conta da noite em uma cena bizarra. Homens fugião de suas casas, levando suas mulheres e crianças que caiam no chão, algumas pessoas, que tardaram em acordar ou eram velhas de mais para fugir, ficavam presas em suas casas para ser queimadas vidas, empesteando o lugar com um cheiro de carne queimada.

O pior de tudo era ver os homens matando todos que ousassem resistir, exceto as mulheres e as crianças mais novas.

Quando terminamos o ataque e os defensores do forte surgiram horrorizados com a cena, embora não duvidasse que teriam feito o mesmo em algum de nossos fortes. Esporeamos os cavalos ate duzentos metros do único portão e formamos uma parede de escudos de vinte homens lado a lado com três fileiras reservas.

Nunca havia estado em uma parede de escudos antes, aquela era uma manobra militar famosa, pois evitava perdas e obrigava os dois lados a lutar em igual numero na maioria das vezes, o que dependia muito do terreno também. E como previsto a isca atraiu os homens para fora do forte.

Eles não podiam ignorar o nosso convite para o combate, havíamos queimado suas terras e única fonte de alimento, eles estavam trancados em um forte com apenas uma saída, sem chances de pedir reforços ou aguentar um cerco que poderia ocorrer em breve, afinal do ponto de vista deles, aquilo poderia ser apenas o começo. Também havia o fato de que havíamos escondido nosso contingente na floresta e atacado com um numero inferior ao deles, de forma que eles pudessem nos atacar com uma parede de escudo com no mínimo o dobro de homens, nos fechando e massacrando nossas fileiras. E foi exatamente o que eles fizeram.

Em dez minutos, os portões estavam abertos, os homens haviam formado sua gigantesca parede e estavam marchando de encontro a nossa, batendo com suas armas em seus escudos. Mesmo sabendo que tínhamos uma carta na manga, aquela cena dava arrepios. Homens e mais homens armados, lado a lado berrando e fazendo um som ensurdecedor com suas armas.

- Homens segurem a posição! – gritou Augusto, sabendo que seus soldados estariam com medo do que poderia acontecer caso o plano desse errado.

E seguramos a posição ate que eles estivessem na distancia desejada, quando começamos a recuar pouco a pouco, mantendo a distancia e os atraindo para longe do portão.

- Falta pouco Ulthred, segure firme e siga o plano. Não te quero morto.

E então eles ficaram bem onde queríamos. Augustou ordenou que a ultima fileira erguessem as bandeiras com o símbolo da rainha, uma coroa vermelha sobre um coração ensanguentado. O sinal era claro e enquanto os homens do outro lado se perguntavam o porque daquilo, duas centenas de tochas se ascenderam na floresta e uma carga de cavaleiros montados saiu para o abate. Eles cruzaram o campo sem dar tempo das fileiras inimigas se reagruparem para segurar a carga. O golpe foi fatal, quebrou as fileiras por trás deixando quase todo o contingente morto e ferido.

- Atacar – gritou Augusto e seus homens largaram os escudos e partiram freneticamente de encontro aos soldados remanescentes.

Toda aquela cena encheu meu corpo com um desejo de seguir em frente e participar da matança, corri o mais rápido que pude de encontro a meu primeiro oponente, um jovem que segurava sua espada tremendo e não fez nada para evitar que minha lamina furasse seu ombro e descesse ate seu coração. Um segundo homem tentou me golpear e aparei sua espada, fazendo com que ela deslizasse para baixo e me desse tempo de subir a minha de encontro a sua garganta.

Aquela sensação era como uma droga que invadia seu corpo, que te impulsionava a cortar tendão, músculo, osso e fazer seu oponente sangrar ate que não restasse uma alma viva para fazer frente a sua lamina. Aquilo era uma maldição.

- Para o forte – gritou nosso general, vendo que o inimigo estava tentando fecha-lo e não sei como, mas consegui entrar com o primeiro grupo de homens, subindo as escadas enquanto matávamos todos que entravam em nosso caminho, ganhando terreno e finalmente alcançando os dois últimos guardas que cuidavam da alavanca que fechava a porta.

Despecei o braço do primeiro quando ele tentava rolar o mecanismo e vi quando ele caiu no chão berrando, tentando estancar seu ferimento e deixando a garganta a mostra para um companheiro ao meu lado o finalizasse. Seu colega desesperado, se apoiou contra o muro enquanto outro soldado tentava golpeá-lo com o machado.

- Eu me rendo – ele gritava, mas parecia que ninguém se importava com aquilo e seu oponente ergueu novamente o machado para terminar o trabalho, mas teve seu braço contido por Augusto.

- Ele se rendeu, respeite isso.

O homem baixou o machado, como se tirado de seu transe e finalmente tivesse notado o que estava fazendo.

- Desculpe general – ele respondeu sem jeito.

- Leve-o com os demais, lhe de comida e água e trate para que ele seja bem tratado, não quero que encostem um dedo nele.

E foi naquela noite que eu vi outra face daquele homem, capaz de incitar uma carnificina sem pensar duas vezes e mostrar solidariedade com seus inimigos.

Eu temia qual delas pudesse ser sua verdadeira face e temia principalmente o que eu poderia me tornar seguindo-o.

Mas ainda assim o que queria fazer.






quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Instrumentos da morte – Parte IV

Ecos dos Inocentes I

Era de noite quando chegamos ao forte. Augusto mandou que montássemos acampamento em uma floresta próxima e não ascendêssemos nenhuma fogueira para não chamar atenção. Os homens reclamaram pois fazia um frio de doer os ossos, mas ninguém ousou desobedece-lo, usando apenas cobertores de pele para se proteger do frio.

Augusto veio ate mim e pediu que eu o acompanhasse por um momento, saímos do acampamento e nos afastamos pela floresta, paramos quando chegamos a um terro alto, de onde podíamos ver o forte e algumas fazendas que o cercavam.

- O que você vê?

Pensei um pouco antes de responder, tentando imaginar o que ele queria ouvir.

- Um forte?

- Eu vejo nossas terras – ele apontou para as fazendas – Eu vejo nossas próprias pessoas dentro de suas casas, esperando que a guerra não os alcance e sei que existe um numero dez vezes maior de homens dentro do forte, armados ate os dentes e sabe o que é pior? Metade deles deve ter um parente do nosso lado.

Não sabia o que responder. Infelizmente o que ele dizia era verdade e não conseguia imaginar como alguém se sentia sabendo que em poucas horas, deveria usar o fio de sua arma para sangrar um ente querido que havia escolhido o lado oposto naquela guerra. Aquilo me deu arrepios e fiquei feliz por não ter familiares.

- Não é fácil fazer o meu trabalho, não importa quem ganhar essa guerra, os dois lados já perderam quando ela começou e não quero imaginar o que faremos quando a população não puder mais aguentar. Isso precisa acabar logo.

- Então é melhor um dos lados ganhar essa guerra logo.

Augusto me olhou com os olhos cerrados e me arrependi do que falei, era obvio que não deveria querer a vitória de nossos inimigos, mas algo me dizia que não era por isso que ele me olhava daquela forma.

- Você tem coragem ferreiro – ele bateu no meu ombro, riu e se virou para voltar ao acampamento. Levei um tempo para segui-lo, tentando entender o que ele queria.

Quando cheguei novamente no acampamento, Augusto estava preparando seus homens e passando tochas para todos. Ele me olhou e havia dor em seus olhos.

- Vamos Ulthred – ele me estendeu uma tocha – Esta frio essa noite, ´vamos levar fogo a nossos irmãos.

Hesitei e quando sentia madeira em minhas mãos, senti o peso que ela carregava, afinal, eu estava a caminho de matar pessoas que não tinham nada a ver com as duas rainhas, iria queimar suas terras e depois ajudar aqueles homens a matarem seus familiares.

Naquela hora eu amaldiçoei o dia em que não deixei que o matassem.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A amante da guerra – Parte IV – Final

De encontro ao destino

Ele me contou que haviam emboscado um grupo de patrulha, mas que boa parte deles havia conseguido escapar e agora haviam voltado para lutar. Como ordenado, fiquei em sua tenda.

Na segurança duvidosa daquela tenda, tudo o que podia ouvir era o som distante da batalha, mas era impossível dizer quem estava ganhando e perdendo. Poderia ter me juntando a eles se quisesse, mas não tinha nenhuma intenção de ajudar aqueles homens. Seu líder foi bom comigo e era um homem honrado, mas seu filho havia matado meu pai e meus amigos. Ele havia destruído minha vida.

Comecei a rezar para os deuses, pedindo uma intervenção em nome de meu pai que naquela hora deveria estar festejando nos campos de batalha dos deuses, após um confronto de proporções inimagináveis, ou estava olhando por mim. Esperava que fosse a ultima opção, pois queria que encontrar o caminho que deveria seguir.

Estava perdida, sem família, sem amigos, sem riquezas e sem uma perspectiva de futuro. Talvez devesse ir ate a cidade mãe e buscar o conselho dos anciões, encontrar uma nova tribo ou construir uma família. Por isso eu rezava, para descobrir o que o destino me guardava.

Foi pensando nele que lagrimas escorreram por meu rosto quando lembrava de sua  morte. Aquela memoria ainda estava fresca em minha mente e me deixava em transe, um transe tão profundo que perdi a noção do tempo e do que acontecia ao meu redor. Quando me dei conta, a tenda foi aberta e um cavaleiro com armadura de lobo entrou nela.

Eu soube na hora que seria feita novamente de prisioneira. Os deuses estavam sendo cruéis comigo.

Ele me encarou, depois olhou para o que havia na tenda e a deixou. Dois cavaleiro entraram em seu lugar e tentaram me amarrar. Lutei contra eles mas o mais forte me golpeou na nuca com o cabo de sua espada e fiquei tonta, incapaz de resistir.

Eles me arrastaram para fora, e com a visão turva, os vi pegando tudo o que podiam encontrar e amarrando as mulheres e os pequenos. Mas o que mais me chamou a atenção foi a imagem de um homem sobre uma cama improvisada com nossas tendas, que estava amarrada em um cavalo.

Ele era forte, e seu corpo estava coberto de sangue. Ainda que não conseguisse enxergar direito devido o golpe, pude ver que seu abdômen estava aberto com um corte de machado. E o que me espantou era que ele não estava morto.

Nos jogaram nas jaulas dos leões e como animais fomos arrastadas para seu acampamento. Durante a viagem, por alguma razão, eu não sentia medo ou preocupação, pois toda minha atenção estava focada naquele homem sendo arrastado de volta por um cavalo. Eu tinha certeza que ele iria morrer.

Mas o destino iria entrelaçar nossas vidas de uma maneira que ninguém jamais poderia imaginar.

Continua em Um Conto de Sangue e Ouro.






A amante da guerra – Parte III

O Grande Líder

Levou cerca de duas semanas para que chegássemos ate onde o líder de cara de cicatriz estava. Quando saímos da área fértil de nossas terras e entramos nos desertos que separavam nossas terras do resto do mundo, percebi o perigo que estava correndo.

Nosso povo era um, seguíamos o mesmo código de leis e todos deviam obedeciam ao grande pai, o mais velho e sábio dos xamas que tinham contato com os Deuses. Porem fora das cidades, nossos homens se dividiam em Kans, cada qual com seu líder e seguindo seus próprios ideais. Geralmente os Kan entravam em conflito, pois os homens sempre procuravam por uma boa batalha e uma forma de mostrar seu valor aos Deuses, mas alguns tentavam entrar nos territórios inimigos e conquistar suas terras, tomar suas riquezas e principalmente suas vidas.

E eu estava sendo arrastada para uma dessas incursões.

Quando adentramos as fileiras de tendas, meus ouvidos foram tomados com o som da festa, o cheiro da comida. Por todos os lados haviam homens festejando e erguendo suas conquistas, armas e o que os estrangeiros chamavam de armaduras, algo que nosso povo repudiava e que seria transformado em armas na cidade mãe.

- Veja como o Kan de meu pai é poderoso, além de vencermos seu pai, vencemos os malditos covardes de armadura – havia jubilo estampado no rosto de cara de cicatriz, um jubilo doentio que me dava vontade de abrir sua boca com uma faca.

Ele me jogou no chão quando chegou ate uma grande fogueira acesa no meio das tendas. Olhei para frente e vi um homem gigante sentado em uma pedra, tomando um caneco de alguma bebida. Ele era assustador, não somente pelo seu tamanho, mas também por estar todo envolto em peles e ossos de leões e outras feras.

- Grande líder – sussurrei.

Aquele homem era conhecido por ser um dos maiores lideres de Kan que existia, ele era temido por sua ferocidade e por não demonstrar piedade no campo de batalha. Mas haviam outros dois motivos para sua fama, o primeiro era o fato dele conseguir domesticar e liderar leões no campo de batalha, o que poucos faziam e também por seus homens  seguir-lo feito loucos, tomados por uma fúria estranha e descontrolada.

- Vejo que voltou com vida – havia insatisfação na fala do grande líder, que encarava seu filho com o ódio e repudio – E trouxe uma mulher, o que pretende fazer com ela?

Cara de cicatriz ficou incomodado com a provocação de seu pai, mas era esperto o suficiente para não fazer nada além de baixar a cabeça e falar:

- Estou lhe dando ela.

- E por que eu iria querer essa cadela? Eu tenho quantas mulheres eu quiser nessa tribo – ele pegou o braço de uma moça que estava próxima e a puxou, colocando-a em seu colo e depois apertando seu seio esquerdo.

- Ela é a filha do matador de bestas. É um premio.

O gigante largou a mulher e se levantou, ele parou na minha frente, se abaixou e ficou ali me olhando por alguns segundos, quando se levantou e socou o rosto de seu filho, o jogando no chão.

- Se você quisesse me dar um premio, deveria ter me trazido o maldito vivo. E eu teria deixado ele te matar e alimentar os leões com seus restos.

Aquilo me pegou de surpresa.

- Maldito o dia em que eu engravidei tua mãe. Quem você pensa que é para pegar meus homens e sem permissão matar o pai dela? – ele ergueu seu filho com uma única mão e depois o jogou novamente no chão – Você não passa de um filho estupido que jamais deveria ter nascido.

- Mas eu o matei, eu matei o matador de bestas. Eu! – seu filho parecia ter perdido todo o juízo, pois devolvia os olhares de ódio de seu pai.

- E isso não prova nada – ele fez um gesto e uma das mulheres me ajudou a ficar de pé – Qual seu nome querida?

- Shara – respondi sem jeito.

- Shara – ele repetiu e depois coçou a grande barba ruiva – Você tem os olhos do seu pai. Não posso apagar o que o estupido do meu filho fez, mas ao menos posso lhe garantir segurança por um tempo, se aceitar.

Cara de cicatriz pegou seu machado e me segurou gritando:

- Ela é minha! Eu a capturei, ela é minha por direito!

Seu pai pegou uma tora da fogueira e a apontou para seu filho, que foi cercado por homens, apenas esperando a ordem para mata-lo.

- Se você não a soltar, eu juro que te mato.

Ele apertou seu machado contra meu pescoço e não percebeu quando peguei a faca que estava presa em sua cintura. Não pensava que seu pai fosse mesmo mata-lo e provavelmente ele me mataria pelo que iria fazer, mas eu precisava vingar a mote de meu pai, custasse o que custasse.

Atravessei a lamina em sua coxa, perfurando o músculo ate encontrar o osso e quando ele caiu no chão berrando, saltei por cima dele e enfiei a faca em sua genital. Seu berro fez com que todos parassem assustados enquanto eu puxava a faca para cima e manchava o chão com seu sangue.

Sem pensar duas vezes me levantei ainda com a arma nas mãos, preparada para matar qualquer um que tentasse me atacar, mas tudo o que vi foram homens rindo e seu pai olhando-o enquanto ele gemia no chão, tentando parar o sangramento.

- Cala boca rapaz, ele não servia para nada mesmo – eu não conseguia entender como um pai conseguia dizer aquilo para um filho. Ele era sangue do seu sangue, mas para aquele gigante, seu filho parecia como um animal ruim que você quer se livrar – Largue essa arma garota, ninguém vai te machucar. Prometo.

Hesitei um pouco, mas depois cedi a sua promessa e para minha surpresa eu fui tratada como uma convidada de honra. Algumas horas depois cara de cicatriz havia morrido e seu pai simplesmente o deu aos leões.

Naquela noite eu dormi tranquilamente, sem medo. Mas bastou o soar de uma corneta para que mais uma vez meu destino mudasse completamente.

O que eu não imagina, era que havia um proposito em todas as mortes que precisei aguentar.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Profecias do Ultimo Dia – Parte III

Chamas 

Havia passado duas semanas desde que fui traído, o que custou a vida de bons soldados da ordem. Duas semanas e aquele evento ainda consumia minha mente, pois eu possuía uma missão e não havia nenhuma espada ao lado para confiar minha retaguarda. Estava sozinho, com uma espada magica e com o dever de livrar a terra do mal ou algo do gênero, uma missão impossível sem sombra de duvida.

As vezes duvida das palavras de Val, as vezes duvidava de minha missão e de nossa fé, me perguntava se éramos um bando de loucos fanáticos ou uma ordem que seguia a uma entidade superior, guiando os homens de uma forma estranha e inexplicável. Mas de uma coisa eu tinha certeza. Aquela arma não era uma lamina comum.

- Mais alguma coisa senhor? – perguntou uma linda moça com corpo jovem e curvas que seriam capazes de tentar ate mesmo Val. Seu nome era Rebeca e ela trabalhava na pequena taverna onde estava fazia dois dias.

- Uma cerveja seria bom.

A primeira coisa que fiz foi me livrar das vestes de nossa ordem. Aquela batina branca, com o cordão negro na cintura e a capa vermelha usada apenas por membros de alto escalão na ordem e que representava a Luz de Dorum chamava muita atenção e não queria parecer um membro da ordem. Val devia estar se revirando em seu tumulo pois era proibido que um membro da ordem usasse qualquer coisa além dos nosso trajes, mas sinceramente ele podia se revirar o quanto quisesse eu me sentia bem melhor com aquela camiseta apertada de algodão, a calça de couro marrom com um bom sinto a onde prendia a bainha de minha espada. As botas em especial eram um luxo.

- Parece que estão reunindo homens em algum forte não muito longe daqui – falou um homem do tamanho de um urso que estava sentado na mesa ao lado com seus dois colegas – Parece que o exercito quer juntar homens para mandar a fronteira, dizem que os ataques bárbaros estão aumentando ultimamente.

- Aqueles malditos deviam ficar em suas terras onde é melhor para eles, será que eles não cansam de tentar invadir nosso reino e serem repelidos? – falou um dos seus colegas, um rapaz jovem e que devia fazer muito sucesso com as mulheres.

- Você fala isso porque ta com sua bunda quente em uma cadeira tomando uma boa cerveja, queria ver falar isso na cara de um deles. Aqueles malditos são o cão quando estão lutando – o terceiro era baixo e feio, com  cara parecida com a de uma mula.

Bárbaros. Aquela foi uma palavra que passei a ouvir cada vez enquanto estava fugindo de meus irmãos e buscando algum sentido para tudo o que precisava fazer. Já ouvi falar deles na ordem, eram um povo que ficava além das montanhas no vale dos mortos, guerreiros por natureza, cuja cultura era completamente desconhecida por todos, afinal, ninguém voltava com vida de suas terras e por isso mesmo ninguém mais ia ate lá.

Mas não eram as conversas exageradas e o medo dos bárbaros que me intrigava, era o fato de que ultimamente toda vez que eu olhava para uma chama, via um campo de batalha, via um homem forte cujo rosto era incapaz de enxergar e ele usava um martelo como arma, algo que considerava muito estranho. Há e havia bárbaros com ele, nunca entendi o que estava acontecendo nas minhas visões e por isso olhei novamente para uma chama que vinha da cozinha, na esperança de entender aquela mensagem.

Mas como sempre, eu só conseguia ver o homem, seu martelo e os bárbaros, nada mais e nada menos. De súbito, a imagem mudou e ele viu três de seus irmãos chegarem a cidade, espalhando o fato dele ser procurado, a imagem se distorceu enquanto o cozinheiro mexia no fogão, colando mais lenha. Quando a imagem se tornou clara novamente, ele se viu em uma arruela lutando contra o homem urso e seus dois amigos.

Pelo jeito havia uma recompensa em minha cabeça e sua viagem seria cada vez mais difícil.

- Sua cerveja senhor – Rebeca me tirou do mundo dos pensamentos e me trouxe a realidade com aquela voz suave de uma menina mulher.

Sorri de volta, agradeci por seu trabalho e enquanto tomava minha cerveja fiquei observando os homens que teria que matar. Se fosse possível eu tentaria evitar cruzar o seu caminho, evitaria entrar em uma arruela, mas as visões nunca eram claras o suficiente e mesmo tentando evita-las, era capaz de hora ou outra entrar no lugar errado.

Duas horas depois eu estava fora da taverna caminhando pela cidade, tentando decifrar qual seria o lugar da visão, quando meio que por acaso eu percebi dois dos três acólitos da ordem que estavam nas chamas, eles passaram por mim rezando sem ter pensando por um único momento que era eu quem eles procuravam. Sorri com aquilo pois, além de não estar trajando as roupas de minha ordem, o que duvidava que eles fossem pensar, também eram poucos que conheciam minha face, provavelmente eles deviam ter uma descrição mas duas semanas eram capazes de deixar um homem da ordem diferente. Agora eu estava com uma barba media e usava meu cabelo preso em um rabo de cavalo que ainda crescia aos poucos. Eles deviam estar procurando alguém com rosto limpo e cabelo aparado, como usava antes.

Se tivesse prestado um pouco mais de atenção ao meu redor e não tivesse deixado que meu “disfarce” subisse a cabeça, eu teria reparado que os três homens estavam me seguindo. Ainda distraído, um garoto passou correndo por mim e pegou minha bolsa de moedas, sumindo por um beco.

Sem pensar duas vezes eu o persegui, dando de cara com uma arruela sem saída. O garoto estava encostado na parede, com olhar confiante e quando me perguntei o porque daquilo, uma risada grossa tomou conta do lugar.

Era o homem urso que estava com seus dois colegas fechando arruela e com espada nas mãos.

- Passe o resto de seus pertences e prometo te deixar partir com vida – e se estar naquela situação não fosse ameaçador o suficiente, sua voz grossa tornava a fala ainda mais assustadora. Mas aquilo pouco importava.

Desembainhei minha espada e finquei na barriga do garoto que estava atrás de mim, não precisei olhar para trás para desferir aquele golpe e muito menos para saber que ele estava gemendo enquanto suas tripas caiam no chão.

- Filho da puta – gritou o homem com cara de mula, que tomou a dianteira para me atacar. Desviei do golpe e coloquei meu pé no seu caminho, fazendo quem ele fosse de cara na parede se arrebentando e caindo morto no chão.

- Você perdeu dois amigos, acho que seria mais prudente sair daqui antes que eu mate os dois.

O menor pareceu ponderar minhas palavras e senti ele fraquejando, mas seu colega não se intimidou, confiante em seu tamanho e sua força. Ele investiu em uma carga furiosa e desajeitada, bastou um movimento, uma esquiva para cortar o tendão de sua perna esquerda e faze-lo se dobrar sobre os joelhos, tornando muito mais simples abrir um rasgo que vinha de seu abdômen ate sua testa.

Bastou um olhar após ver o grandão tombar para que seu amigo sobrevivente saísse correndo o mais rápido que podia. Me voltei para o garoto que choramingava baixinho enquanto os últimos sopros de vida ainda corriam dentro dele.

- Foi mal garoto – falei dando de ombros antes de separar sua cabeça do corpo e pegar meu dinheiro de volta, além de revistar os bolsos dos três mortos onde encontrei mais algum dinheiro.

O fogo nunca mentia, eu havia lutado contra eles como ele previu. Faltava apenas entender quem era aquele homem empunhando um martelo e o que ele significava dentro do tabuleiro que o destino preparava.

E naquela época eu mal sabia que todas as peças haviam sido posicionadas e que o primeiro movimento já havia sido feito.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Gloria Festiva

Um ótimo Natal e um excelente ano novo para todos! Que 2014 traga muita gloria e conquistas épicas para todos que terão seus nomes cantados pelos bardos!